sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Poema do coração


Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração.

Então poderia dizer-vos:
«Meus amados irmãos,
falo-vos do meu coração»,
ou então:
«com o coração nas mãos».
Mas como o meu coração é como o dos compêndios.
Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral)
e os seus companheiros (duas aurículas e dois ventrículos).

O sangue ao circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.

Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer com os lábios apertados,
e uma lâmina basta e agreste, que endurece
a luz dos olhos em bisel cortados.

Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
Que esse vento que sopra e que ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.

Então, meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?

António Gedeão (Obras Completas)

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